Enquanto percorremos a Serra do Açor, ao mesmo tempo que nos deixamos encantar pelo aspeto majestoso e puro da paisagem, a curiosidade e a impaciência invadem-nos. Piódão teima em permanecer escondido para, inesperadamente, deslumbrar com a sua arquitetura, que tão bem exemplifica a capacidade que temos para de forma harmoniosa nos adaptarmos aos mais inóspitos e também mais sublimes locais. Como se de um presépio se tratasse, as casas distribuem-se em redor dos socalcos, nas quais pontuam o azul e o xisto, por entre sinuosas e estreitas ruelas, que em cada canto escondem a história da Aldeia Histórica de Portugal de Piódão.
radarista |
O Piódão, aldeia classificada como "Imóvel de Interesse Público", localiza-se na Serra do Açôr, com uma implantação de escarpa abrupta e uma estrutura de malha cerrada e traçado sinuoso, bem adaptada à rugosidade do espaço envolvente. As pastagens da Serra de S. Pedro do Açor, recheada de nascentes, atraíram os pastores lusitanos que ali alimentaram os seus rebanhos. Na época medieval, formou-se um pequeno povoado a que foi dado o nome de Casas Piódam, depois transferido para a atual localização, talvez devido à instalação de um Mosteiro de Cister (de que já não restam vestígios) o que fará remontar o lugar ao séc. XIII. A este mosteiro poderá estar ligada a antiga invocação de Santa Maria (comum nas Abadias Cistercienses) da Igreja Matriz templo reformulado no séc. XVIII/XIX, o que o dotou duma curiosa fachada pautada por finas torres cilíndricas rematadas por cones.
No interior, uma imagem da Senhora da Conceição do séc. XV, atual invocação da igreja, altares de talha e azulejaria de fabrico coimbrão. De referir também a Capela de S. Pedro com a sua imagem do séc. XVI. Conta-se que aqui se teria fixado um dos assassinos de Inês de Castro - Diogo Lopes Pacheco, apelidos ainda hoje existentes no Piódão: os Lopes e os Pachecos, estes últimos tinham direito a tribuna própria na Igreja de Lourosa.
Igreja Matriz - brunoalexandremiguel |
A aldeia do Piódão é característica pela sua disposição em anfiteatro, o chamado presépio de xisto, com as casas de grande consistência formal, arquitetónica e estética. O casario, em alvenaria de pedra de xisto, tem cobertura de lajes no mesmo material. As janelas, de pequena modulação têm, tal como as portas, cor nos aros, e, pela Páscoa, cruzes feitas com o Ramo de loureiro benzido são postas nas vergas das portas para afastar o mau-olhado. Pelas suas ruelas íngremes, estreitas e tortuosas que formam recantos numa estrutura de malha cerrada e em grande parte preservada, corre aqui e ali um fio de água numa canada irregular: a Levada. De realçar a singela Fonte dos Algares. As atividades agrícolas e pastorícia continuam agora, como no passado, a ser dominantes no modo de vida dos habitantes do Piódão, encaradas essencialmente como forma de subsistência e sobrevivência. De notar a Eira, donde se desfruta uma bela panorâmica, e o Forno do Pão.
O que ver:
Fonte dos Algares
A Fonte dos Algares, toda construída em xisto, trata-se de um pequeno chafariz com um arco ogival. Construída no interior de uma parede de xisto, o chafariz integra-se de uma forma harmoniosa na paisagem austera mas verdadeiramente encantada da aldeia.
Igreja Matriz
Eira
Capela de São Pedro
Capela das Almas
Séc. XVIII e XX Muito transfigurada. Com retábulo em madeira e com uma pintura singela representando as Almas do Purgatório. Foi capela mortuária do Piódão e das aldeias vizinhas.
Fonte original: Aldeias Históricas de Portugal